Tic Tac Tic Tac

Em Cartaz

Por Caroline Araújo

Será que gostaríamos de viver eternamente com a aparência de 25 anos? Diferenças sociais não é assunto novo. Inúmeras abordagens sobre tal tema já foram feitas e as variações não vislumbram o fim da linha. Má distribuição de poder e renda, questões éticas, burocráticas e religiosas formam o subdesenvolvimento que acompanha o crescimento da população e isso gera a constante necessidade de responder perguntas.

O diretor Andrew Niccol é famoso por filmes de ficção científica. Entre seus projetos mais famosos estão “Gattaca”, “O Show de Truman” (onde foi roteirista e co-produtor) e “S1mone”. Soma-se ainda ao seu currículo o interessante “Senhor das Armas”. O seu novo projeto, é ambicioso e fala de um tema questionável na sociedade: a juventude eterna e o manuseio do tempo.

 “In Time – O Preço do Amanhã” (2011) que esta em cartaz atualmente nos cinemas tupiniquins,  retrata um futuro não datado (distante ou não)  onde todos habitantes do Planeta Terra sofreram uma espécie de mudança genética que lhes permite crescer até os 25 anos. Como pagamento pela dádiva, um relógio biológico (literal) regressivo, exibido no antebraço, lhes dá apenas mais um ano de existência. Para sobreviver a partir daí é necessário ter meios de garantir que mais tempo seja creditado ao seu relógio. Cada minuto é precioso. O tempo vira moeda de troca em uma ordem mundial em que o salário é pago por dias creditados a sua vida – devendo esse tempo ser equilibrado entre gastos necessários ao sustento e a simples existência. Se o relógio zerar, a morte é instantânea.

“In Time” começa muito mais a fim de repetir a fórmula do primeiro filme de Niccol (o interessante Gattaca) do que se tornar uma fuga à La A Ilha. Como um espécie de  ficção científica marxista funciona e enquanto apóia sua trama nesse lado não perde a mão, porém, quando resolve mudar o tom, acaba mostrando uma certa dificuldade visual e narrativa em organizar essas sequências de ação.

Apesar de totalmente inverossímil, a engenhoca de “In Time” é pelo menos interessante. Os conceitos da disposição societária e os meios de demarcação são eficazes. Niccol utiliza muito bem as ferramentas da Ficção Científica para sustentar a organização do universo que apresenta, e não para enrolar com enxertos de cenas pirotécnicas. Provas disso estão na demarcação das áreas da escala social através de Fusos Horários e principalmente no novo valor agregado a hábitos citadinos.

 Justin Timberlake é Will Salas, um jovem do gueto que, ao lado da sua mãe, briga contra o relógio para garantir a continuidade de suas vidas. Até que Will inesperadamente encontra com um homem que, cansado de seus mais de 100 anos em um corpo de 25, resolve ter o eterno descanso e doar seus 116 anos de seu relógio para Will. O que fazer quando não se precisa correr como antes¿ Will usará seu século contabilizado para entrar no mundo dos eternos-ricos e fazer justiça. É nessa entrada ao universo “Rico” que Will conhece Sylvia Weis (Amanda Seyfried) filha de uma magnata que vive controlada por tudo e todos e depois de algums reviravoltas na trama, passa a fazer duo de guerrilha com nosso “Robin Hood” moderno em questão.

“In time” mistura vários elementos, numa releitura de Bonnie e Clyde pós moderno somado ao “Robin Hood” da cidade com uma pitada de síndrome de Estocomo, e ai esquece de cozinhar tudo até o ponto da fervura chegar na medida certa. Com isso, hesita, em esmiuçar mais o conceito inicial – as lutas de classes e se afunda numa necessidade de mostrar ação, que no fundo, não tem para que. E ocorre que o filme chega ao fim sem tempo de mostrar definitivamente sua essência. Ironia, não¿