por Caroline Araújo
Pesado e não é para todos. Indigesto. Gástrico. Rejeição. Pura e em primeira instancia. Sua força rejeitora esta mais no que sugere do que no que mostra. Revira a alma, o estômago e as vísceras. A grande questão a cerca da absurda e criminosa censura profanada e aplicada pelo quatros cantos do mundo para com o longa dirigido pelo cineasta sérvio Sdjon Spasojevic fez com que o seu filme, que possivelmente nunca ganharia tamanha repercussão mundial, rapidamente tivesse um coro de vozes que simplesmente citavam sua existência. E então, nos deparamos com a aplicabilidade do livre arbítrio: a escolha se devo ou não assistir.
Ninguém é obrigado a assistir. Não se trata de um clássico ou até mesmo uma obra prima do cinema de horror, como este se classifica. Porém, você deve assistir o filme de Sdjon para tentar compreender não só do que se trata o filme tão malfadado do momento, mas a própria mente de quem criou essa história e porque criou. “A Serbian Film – Um Filme Sérvio” ou como foi anunciado em português “Terror sem limites”(2010) é uma descida ao inferno na sua verticalização humana mais profunda. O que arrefece qualquer humanidade possível é o fato de que a denúncia possível do que assistimos é mais comum e real do que queremos crer que a sociedade ( no caso a sérvia) por trás da qual o enredo se consuma seja tão pobre, podre e suja quanto aquilo que esta sendo projetado.
Spasojevic conta- nos a história de Milös, um ex – ator de filmes pornôs que subitamente é constatado por uma antiga “parceira de cena” para um último trabalho, que vai assegurar o futuro de sua família. Contudo, inicialmente meio reticente, e achando que
existe muito mistério ao redor desse tipo de pornô que estão a lhe oferecer,nosso astro procura seu irmão, Marko, um policial um tanto corrupto para que possa evitar entrar numa roubada. Bem, tudo vai na contra – mão disso e mesmo que quisesse evitar, Milös esta soterrado por ela.
O inferno que o personagem de Milös atravessa acaba refletindo como mal estar no espectador, numa soma proposital de estimularnos ao asco, ao absurdo. O diretor ultrapassa limites, todos eles. Porém, sempre dentro de um jogo de cena. Embora implicitamente temos a sugestão de relações com crianças ou necrofilias, fica claro pela montagem que tudo é encenado.
Uma ode a misoginia, com uma trilha sonora e fast cut’s na montagem que criaram tensões em momentos precisos, pressionando o espectador cada segundo mais. “A Serbian Film” causa furor por concentrar toda a sua força e imaginação na representação
frontal da perversidade do homem, sem frescuras ou meias palavras. Somos em essência bestiais. Só precisamos ser induzidos à.
O clima obscuro nos remete a um páis (Sérvia) em colapso, onde a violência ultrapassa parâmetros aceitáveis, as estruturas politicas estão desfalecendo. As paisagens frias e duras nas poucas externas do filme catalisam a metamorfose de um estado de horror. No caso, no ESTADO propriamente dito. Visualmente não nos acrescenta em nada. Coloco-o como se fosse uma mistura de “albergue” com um filme de pornô hard core, e mais nada. Algumas tomadas esdrúxulas e de péssimo gosto cinematográfico.
Seu desfecho trágico ( sim é possível ser pior nunca se esqueça disso) é o último arrasto para o fosso de um pessimismo sobre humano. Atroz. Chegamos a boçalidade pura. Um nível de horror absoluto. Contudo, não posso deixar de pensar que Sdjon, disse que seu filme é uma denúncia do horror de seu país. Sua mente então seria também reflexo desse horror.
E isso nos fica claro, cristalino na fala de um dos personagens como profetiza: “uma verdadeira, feliz família sérvia. Vida. Arte.” Vos pergunto, como julgar se não co-habitamos nessa mixórdia social bélica¿ Coadunar com essa visão repulsiva. Não. Mas não podemos passar calados frente ao exposto. E muito menos frente a uma censura repulsiva tão quanto o conteúdo em questão. Para desgostar, deve-se provar. Prova quem tem estomago para. Tipo, um de avestruz.