CITY OF STARS

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Em cartaz   e Aposta de Prêmios

Por Caroline Araújo

 

Quando os irmãos Lumiére abriram ao mundo as portas da imagem movimento, ha pouco mais de 100 anos, sem querer querendo, além da extraordinária possibilidade de documentação da realidade, eles deram asas à um mundo extraordinário do encantamento. De maneira “mágica”; compreender as engrenagens de como capturava as imagens em seus movimentos reais tornou-se obsessão de muitos artistas e cientistas ao redor do mundo. E essa obsessão levou gradativamente que cada avanço rumo ao controle da realidade intrínseca daquele espaço tempo gravado numa película, criassem eras. O cinema aos poucos torna-se espetáculo. Uma fração de tempo onde simplesmente ia se assistir algo que acalentava “a alma.

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Após os primeiros 30 anos do surgimento do cinema em 1927, aparece o primeiro filme com trilha Sonora sincronizada e, não por acaso, tratava-se de um musical: “The Jazz Singer”. Imediatamente os produtores perceberam quão rentável era este novo gênero fílmico, e os investimentos crescem e aparecem. A chamada era de ouro dos musicais iniciou-se logo após a II Guerra Mundial e foi até os primeiros anos da década de 1960. O mundo todo mudando, e o interesse no gênero diminui significativamente. Contudo, passava alguns anos, um director, ou produtor, acabava por trazer um novo musical, como “Molin Rouge”, “Cabaret”, “Nine”, “Chicago”, apenas para citar alguns mais recentes. Todos com o grande ardor de extrair de seus atores atuações vibrantes e criar trilhas sonoras que geravam desdobramentos de dividendos posteriormente.

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Então, chegamos ao ponto em que com certeza você já deve ter ouvido todos os elogios possíveis para La La Land: Cantando Estações (2016) novo filme do menino prodígio Damien Chazelle  do eleogiado Whiplash: Em Busca da Perfeição”(2014) e que tem apenas 31 anos. Mesmo que você não seja um apreciador de filmes desse gênero, é impossível ficar impávido com uma impressionante sequência em uma rodovia em direção a Los Angeles. Centenas de carros travados em um dos engarrafamentos tão comuns à cidade. Aos poucos, jovens começam a deixar os veículos e cantar. Percebemos que se tratam de aspirantes a artistas que peregrinam do mundo todo em direção ao sonho de una carreira na Meca do cinema. Chazelle cala quem achou que ele estava louco ao entrar nessa empreitada. Cria uma sequencia estonteante, marcada, ensolarada e vibrante, com imperceptíveis cortes, em uma sequencia sem interrupção tão absurda e linda. De forma honesta “La la Land” nos conduz aos bastidores da indústria cinematográfica. Metalinguagem derramando na tela.

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A história criada por Chazelle é simples ( sim ele também escreveu!!), mas o roteiro é complexo – assim como em Whiplash. A estrutura de boy meets girl, , é a adotada pelo cineasta, mas são nos diálogos onde o filme ganha verdadeiramente vida. O frescor com que Chazelle conta esta história, utilizando-se do respaldo de todos os envolvidos, faz toda a diferença para o êxito do conjunto todo. As cores que o figurino explora tão habilmente, a direção de arte milimétrica, criam uma atmosfera de fantasia, como conto de fadas. Pessoas apaixonadas, a hesitação do primeiro beijo, tão envolvidas que chegam a flutuar no ar, cantam e sapateiam como se a vida fosse assim. Mas mesmo todo esse amor que vai numa crescente estação a estação, possui o contraste de situações corriqueiras, que trazem tanto a doçura quanto o amargor em um timming tão fantástico que somos tocados por essa bela história de amor.

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Ryan Gosling e Emma Stone. São lindos. Buscam os seus lugares ao sol. Um pianista purista de jazze uma aspirante a atriz que trabalha de barista na Warner bros. São tão cheios de sonhos que é justamente a energia desses sonhos que cria a sinergia que os impulsiona a irem além.

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Ryan é Sebastian, e o diretor utiliza a trajetória da personagem fiel artisticamente ao que o jazz significa para ele, para levantar a eterna discussão, do que é vendável, do que é legítimo artisticamente, do que é apreciado, se torna um dos temas pulsantes do roteiro. Gosling empresta seu semblante de cachorro caído da mudança de forma espetacular. Cantar, dançar e interpretar como o faz é um esforço audaz e percebemos isso no tom de seu personagem. Forte candidato ao Oscar deste ano.

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Stone é Mia. É nas decepções da personagem que a atriz se abre verdadeiramente, e podemos ver o paralelo entre ficção e realidade, já que Stone também abandonou tudo e se mudou para Hollywood buscando o estrelato e provavelmente passou por situações semelhantes as de Mia. Ela brilha tão efusivamente que seus olhos são duas gemas cheias de sentimento nos longos planos de close up que somos brindados. Stone acaba de ganhar o SAG e se torna a principal aposta para o Oscar.

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Chazelle procurou recriar planos e cenas que se tornaram memoráveis em grandes musicais do passado, produzindo uma obra prima que é uma ode a Los Angeles, a cidade dos sonhos. O filme emprega imagens do passado da cidade, registrada nos muros e fachadas de Hollywood, nos cartazes e outdoors. Em um travelling logo no inicio (lindíssimo devo dizer) quando Mia caminha para casa, ao passar por uma parede onde vemos ícones de personagens pintados a câmera distancia ao compasso da musica que chama a tenção de Mia e a faz entrar e em fim, encontrar o triste pianista a se apresentar.

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A montagem é um primor a parte. Dinâmica, para lá de poética, cada gesto dos atores é milimetricamente calculado o que demonstra que Chazelle usa TODOS os elementos técnicos do cinema a favor da sua história e com muita maestria.

E a montagem tem outro timming em conjunto com a primorosa trilha sonora. O Tema de Seb`s e Mia ecoa na mente. Doce, triste e brilhante. Embarga a garganta. O Jazz agradece o spotlight e, o público, o deleite auditivo.

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A trajetória da atmosfera dramática contada por meio das estações do ano, guarda os subtextos de questões que o próprio Chazelle abordou em Whiplash, como a colisão da vida profissional e a vida pessoal, como se fosse impossível que ambas possam coexistir. O mundo cínico que o diretor cria não é nem frio, nem quente, pois temos o arrependimento do que poderia ter sido como uma de suas conclusões.

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Alias, a sequencia final, que mostra justamente isso foi um soco no meu estomago. Senti meus olhos marejarem, pois eu senti o rebobinar de Mia ser meu e tenho certeza que muitos também assim o sentiram. Quantas e quantas vezes ao nos deparar numa escolha, ou num futuro, encarar algo do passado, não somos envoltos numa saudosa tristeza do “ e se” ? As lágrimas inundaram silenciosamente a minha alma.

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Feito com um primor, “La la Land” é uma celebração ao cinema, e sim, ao amor. Aqueles possíveis. Aqueles que escolhemos. Aqueles que não temos nos braços, mas que vamos amar enquanto respiramos. Deixem o coração de vocês serem invadidos pelo deleite visual e auditivo ( enquanto escrevo ouço a trilha no youtube para ajudar nas lembranças afetivas). E sim, “La la Land” é o filme que precisávamos ha um bom tempo. As indicações e os prêmios que vem abocanhando só coroam essa trajetória esfuziante. Que bom que veio. Corram para os cinemas com um grande balde de pipocas e uma caixa de lenços. Faz tempo que não fica tão feliz em sair de uma sessão. =)

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O valor do Silencio

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Indicação VOD ou Vídeo locadora

por Caroline Araújo

 

É inegável que o gênero de espionagem sofreu uma rotação gigantesca com a a trilogia do ex – agente secreto que perde a memória. Uma espécie de novo James Bond, só que, mais violento, com sangue nos olhos e sem tantas firulas inventivas ou “bond girls”. As mulheres também metem porrada. A trilogia Bourne foi sem duvida um dos maiores sucessos do inicio dos anos 2000, e era redonda, encerrando de forma precisa o arco do protagonista com a icônica imagem do personagem nadando no final de “O Ultimato Bourne”. Mas parece que, a onda de trilogias que não tem fim, acabou gerando o quarto filme baseado no desmemoriado “o Legado de Bourne” e que não foi bem recebido ou visto como os anteriores.

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Entretanto, isso não intimidou Paul Greengrass, que muito mais experiente do que quando assumiu a direção em 2002 de “A Supremacia Bourne”, quase 10 anos após o ultimo filme da franquia, volta a direção e agora como co – roteirista no quinto filme que trás Matt Damon incorporando o agente mais procurado da CIA.

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Em “Jason Bourne”(2016) Matt Damon tem um total de 25 falas. Greengrass disse numa entrevista ao Guardian que já tinha consciência desse silêncio nos filmes anteriores; e, para ele o que define Bourne é a violência e as situações de ação. Mas o silencio é muito mais diegético. Ele expõe de forma languinar a inabilidade do personagem central em botar para fora seus traumas, angustias e motivações. Ao mesmo tempo, o silencio funciona como personagem, pois, a discussão que este quinto filme trás a tona perpassa por temas de anarcoativismo, excessos de vigilância e invasão de privacidade institucionalizada, onde, o silencio de um certo conformismo (ou seria um deixa disso) de grande parte da população, não cria um debate salutar sobre ( algo que a cada dia se torna mais urgente de debate). Quando na primeira aparição de Bourne se faz e vemos ele numa espécie de luta clandestina na fronteira de países no canfundó da Europa, é inevitável fazermos a comparação de como o tempo passou para esse cara.

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É interessante ver como o roteiro pincela a panela de pressão que esta a geopolítica atual, quando, coloca a primeira perseguição de cenas de ação numa sequencia incrível em meio a um gigantesco protesto na Grécia. Esse tipo de escolha concede ao filme um realismo, criando um canal de conexão dos personagens fictícios com o mundo real. Essa conexão é extremamente sagas, pois ambientando essas ações reais dentro da ficção, vai descamando as abordagens sobre as questões de segurança, espionagem e a conectividade no mundo virtual, uma espécie de “vigilância líquida” onde todos e tudo são vigiados 24horas. – hoje o virtual é o caminho mais fácil para a própria espionagem e a própria internet e o hackerismo que combatem isso.

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É curioso que Greengrass utiliza esse conceito de espionagem inclusive para saber como usar a câmera. Muita utilização de câmera livre, com objetivas longas, sempre a espreita e a procura de alguém como se; estive a observar o que ocorre. Nas cenas de ação que geralmente são frenéticas, neste filme conseguimos ter uma visão intensa e mais clara. Entretanto, a montagem, ficou um tanto enfadonha, monótona, tirando o ritmo que buscou-se criar. O roteiro também tem falhas, é uma espécie de “um fiapo da história que tenta-se fazer um outra história”. O que pode se esperar disso? Barrigas no arco dramatico, e uma atmosfera que vai até certo ponto e não diz à que veio.

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Alicia Vikander, interpreta Heather Lee, uma professional da CIA que tem uma penumbra dúbia, uma self – made woman, ambiciosa, determinada, mas ainda sim, meio perdida nas ações. Sua atuação é correta, dentro da amarração feita por Greengrass; mas tinha potencial para ser muito melhor.

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Eu acredito que o trunfo ( alguns não acharam) deste quinto filme Bourne é podermos ver nas nuances (sem falas) interpretativas e tão bem personificadas de Matt o envelhecimento do personagem. Algumas criticas colocaram que ele era um mero coadjuvante. Agora, se coloca no lugar dele. Sem memória, boa parte da sua vida adulta dos últimos 20 anos foi tentar descobrir quem é de verdade. Sem família, sem amigos, sem poder confiar de fato nem na sombra. Praticamente uma poeira cósmica. O silencio dessa alma perturbada é o maior grito de socorro que pode existir. A inexpressividade numa rinha humana lá no cafundó da fronteira da Europa, demonstra que tanto faz, morrer ou viver. Não sobrou nada além da não memória. Se pensarmos per esse prisma, Matt nos da um Bourne maduro, amargo e perfeito.

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Mesmo sendo um filme que não precisava ser feito, ele é um thriller de espionagem sólido, com uma boa fotografia e tratamentos sonoros bacanudos, vale uma pipoca, mas também demonstra as franquias que precisamos mais que fiapos de história para fazer continuações.