Um Belo Bolo, mas com pouco fermento!

Em Cartaz

Por Caroline Araújo

Até o dado momento, nenhuma outra produção cinematográfica tupiniquim havia ousado em TENTAR, veja bem, utilizar uma estética narrativa diferente das que costumeiramente saem belas bandas de cá, e fazer uso de uma linguagem visual cosmopolita e frenética, chegando ao que poderíamos classificar de “quase” estética Playstation, que vem ganhando o globo nos últimos 10 anos. Ok. Afonso Poyart ganha pontos ( e muitos!) por essa ousadia. No entanto, acredito que seu trabalho poderia ter realmente escancarado as portas para um novo cinema nacional, porém, ele ficou apenas na frestinha dela.

“2 Coelhos” (2012) longa de estreia de Poyart é uma belo exemplo de  ousadia e inventividade, cheio de referências diretaças de um cinema que MUNDIAL, até então, não é muito visto por aqui o que nos apresenta, uma miscelânea de linguagens, variadas e bem colocadas.Edgar (Fernando Alves Pinto) nosso protagonista vive em uma São Paulo cinza (claro) sem rumo certo. De cara percebemos que algo não é assim uma Brastemp, já que nosso rapaz gasta seus dias entre vídeo games e pornografia. Edgar possui varias pontas soltas em seu passado, que a medida que a película vai correndo, vamos tendo acesso as informações. Porém, neste momento, ele tem um plano brilhante      (na concepção torta dele que isso fique claro); uma espécie de justiça onde ele habilmente colocará corruptos e bandidos em rota de colisão e assim matar “2 COELHOS com uma cajadada Só!”

O tom de videoclipe construído mediante a excessiva utilização do slow motion após explosões, detalhes de estilhaços surgindo em câmera lenta em direção a rostos e corpos enquanto toca uma música Kings and Queens da banda 30 Seconds To Mars é a mostra do cinema de referência de Poyart, que podemos agregar ainda a utilização de uma espada e um universo paralelo onde Julia ( Alessandra Negrini) se esconde quando esta com crises de pânico – referencia direta a “Sucker Punch” de Zack Snyder e também a montagem anacrônica muito utilizada por Christoper Nolan, Guy Ritchie, o próprio Snyder entre outros.

Poyart parece gritar ao mundo o quanto é apaixonado por essa estética, o que  analisado por uma ótica é bom, porém a utilização em demasia de tais recursos compromete o ritmo fílmico em determinados momentos. E isso fez com que “2 Coelhos” ficassem sem a “Zape” final nesse jogo de Truco. Temos uma generosa ‘gordura estilística’ que merecia ser cortada.  E por outro lado, se pararmos para observar o texto, o roteiro que também foi escrito por Poyart não é assim uma Brastemp ².

Edgar é tão sujo quanto os bandidos e corruptos que quer colocar em colisão. Ele mesmo se beneficiou desse sistema fétido no qual vivemos ha mais de 500 anos, e de certa maneira, seu plano justiceiro é tão corruptível quanto, e vai além, ele é egoísta. Tudo é feito para reparar uma cagada (e das grande) que ele ocasionou. Assim é fácil.

Muitas criticas por ai, disseram que o filme é mais do que apelo visual pois tem uma forte crítica social sobre a corrupção embutida no subtexto. Eu descordo. Caso essa tenha sido a intenção de Poyart, ele a fez de forma errada, pois seu roteiro, como eu disse, nos dá um protagonista tão sujo quanto os bandidos que ele quer combater e mais egoísta que qualquer um, pois tudo é feito não pelo bem da nação ou de outrem, mas pelo bem de sua consciência culpada. Me diz que critica ou mensagem tem nisso¿¿¿

Contudo, volto a referenciar a ousadia em lançar ao espectador uma nova estética narrativa para o cinema brasileiro, cheio de referencias midiáticas e totalmente antenadas ao tempo e ao publico com o qual tece um diálogo. Acho que esse é o mérito de Afonso.

Vale frisar que os atores estão muito bem, dirigidos inclusive. Marat Descartes é um dos destaques, seu bandido Maicon é ótimo! Caco Ciocler também é destaque, embora credito que seu personagem ficou caricato por demais, professor universitário barbudo e sorumbático. hello?? Alessandra Negrini corrobora com generosos decotes e que ganharam slow, a ala masculina vai curtir. Os diálogos construídos também são pontos positivíssimos, lembra um jogo, dentro desse jogo construído por Edgar (metajogo – metalinguagem). Temos uma boa fotografia que permite o respirar acelerado da câmera de Poyart. O lance das musicas utilizadas serem referencias de bandas mundiais me deixou um outro “Q”. Poxa, temos bandas nacionais e compositores independentes que poderiam ter tido lugar nessa película. Se é para fazer filme nacional com referências mundiais, tudo bem, mas as trilhas bacanas serem só estrangeiras, hummmm bola murchaça né. Ah! quase me esqueço, os bichinhos demoníacos que Julia briga com sua espada, ficaram muito propaganda da Coca cola! a galera da BackMaria mandou muito bem nos efeitos, mas esse “mostros” podíam ter sido mais vicerais, tipo MOSTROS mesmo!

De qualquer forma é cinematografia obrigatória para os cinéfilos de plantão. Viva uma nova fase do cinema nacional.