Em Cartaz
por Caroline Araújo
Acabei de sair de uma sessão de cinema na qual tive a nítida sensação de que meu tempo fora extorquido, afanado, assaltado por assim dizer. Como se não bastasse o ar condicionado do #multiplexpantanal da sala 08 não esta funcionando, a história que foi desenrolada (ou enrolada também cabe) assim como o dito cujo refrigerador de ambiente, não vigorou, nem se estivesse plugado em um gerador extra.
Antes de tudo faço um desabafo. Acredito que em qualquer área de trabalho, mas em especial nas das artes ou comunicações, onde você trabalha com histórias reais que viram ficções ou ao contrário, tudo parte de um ponto só: PESQUISA. Precisam-se pesquisar a fundo todos os engendramentos que são cabíveis, precisam-se pesquisar os feed backs de cada personagem que fará parte desta trama, precisam-se pesquisar as formas de contar a história. Ai neste ponto acontece o trabalho de referencia, onde se busca outros trabalhos do gênero que tenham sido realizados anteriormente para neles encontrar alguma ideia que possa ser adotada no seu trabalho. Você pega a ideia, transforma ela de acordo com a realidade com a que você esta trabalhando agora e continua, até
conseguir fechar toda a história.
Voltando. O verdadeiro furto que aconteceu ao Banco Central em Fortaleza foi algo hollywoodiano. Cerca de R$ 164 milhões sumiram do cofre do prédio sem que um tiro sequer fosse disparado. A complexidade do túnel cavado para o crime impressionou até mesmo profissionais da engenharia. A trama tinha tudo para gerar um filme espetacular. Mas ai o diretor estreante no cinema, Marcos Paulo resolveu adaptar para a telona a história, sob o título “Assalto ao Banco Central”(2011), e mostrou que de direção ele precisa fazer uma reciclagem urgente.
Milhem Cortaz, dá vida a Barão, o cara malandrão que teve a ideia do assalto e que vai recrutando seus comparsas para montar um dreamtime de larápios. Marcos Paulo bebe Soderbergh total, inclusive com a narrativa de uma personagem que acaba de sair da prisão e já entra no bando. Puro “onze, doze ou treze homens e um segredo”. Só que sem Brad Pitt ou George Clooney.
Enquanto assistimos a montagem desse “dreamtime”, vamos acompanhando as investigações da policia através dos detetives Francisco Amorim ( Lima Duarte) e Telma Monteiro (Giulia Gam). Paulo adotou uma montagem não- linear, onde temos a história em dois tempos, um pré- montando o assalto e outro depois do assalto, onde ao mesmo tempo elas se desvelam até chegarem em um momento onde se encontram. Total Spike Lee em “O plano perfeito”.
Um dos grandes problemas do filme é sua falta de identidade, roubando diversos elementos de produções conhecidas, gerando um desconfortante amontoado de clichês que se potencializam. Utilizar ideias de outros trabalhos é algo comum, o que não dá para engolir neste caso é quando essas referências impedem a produção de encontrar o seu caminho, devido a tantos ecos dos referenciados se mostrando mais presentes que a própria película.
O roteiro de Renê Belmonte, não ajuda. Nem um pouco. Os diálogos são inverossímeis, as cenas de ação são poeira estelar, as encheções de linguiça são toscas e as inserções de humor, são praticamente chamar o espectador de burro. Afinal é um filme de ação ou uma comédia chanchada¿ Eriberto Leão interpreta um dos comparas de Barão, é ele que acaba de sair da prisão e entra nessa super jogada. Pai! Ele é um fofo em pessoa, mas a cada atuação esta sendo conduzido de forma tan tan. Algum diretor precisa ajuda-lo, de verdade. Ele esta para um malandro sedutor com pegada da mesma forma que o professor Girafales está para Galã da série Chaves.
Para adensar mais ainda essa dissonância audiovisual, a trilha sonora parece ter saído de um disco daqueles cantores bolivianos que ficam com suas flautas no centro da cidade. Torpe. Cada vez que o personagem de Cortaz entra em cena, toca uma musica cretina, para tentar “dar um clima”. Meu¿ clima¿ Que Clima¿ Achei que estava dentro do jogo da Zelda, só faltou fadinhas ou magias com aquela musica.
Temos um elenco de peso totalmente desperdiçado em decisões equivocadas da direção. Personagem comunista fazendo discurso aos seus pares e depois chafurdando no vinho em Paris, a mulher do chefe cachorra que quer levar para cama o bonitinho da
paróquia, os policias corruptos, os nordestinos peões, e a droga do tabuleiro de xadrez duas vezes em cena. Ah, estava esquecendo do vigia oriental fazendo cara de bocó e o funcionário da firma q presta segurança para o dito banco que saiu direto da novela “ Que rei sou eu”.
O Cinema brasileiro precisa ter seus heróis, suas ações. Tropa de Elite e José Padilha estão ai para provar isso. Porém, tem que ter Colhão meu irmão! Tem que IR ALÈM. Fazer o dever de casa, montar uma linha narrativa sem furos, amarrar as pontas dos cadarços e deixar-se. Colocar só a cabecinha e achar que tá abalando Bangu gera vergonha alheia até no espectador. A TV, as novelas diluem isso em seus infindáveis capítulos. Um longa- metragem não. Aqui o papo é reto, senão vai pro saco!
E aja saco para digerir esse sapo bufo à cavalo que foi servido. Uma lastima. Só isso.