A Sutileza do Cotidiano – Oscar 2012

Opinião

Por Caroline Araújo

 

De uma maneira clara, no mundo cinematográfico não basta você ter, astros milhões em orçamentos, roteiros mirabolantes, ou não, mas que sejam astutos (tenho gostado dessa palavra ultimamente) e intensos, ter uma boa história nas mãos; é preciso saber transforma-la em experiência de cinema. E isso, é algo tão indelével quanto ter um bom ator para puxar o carro.  Alexander Payne, indiscutivelmente, teve o astro, o elenco, o roteiro, a sorte, a inspiração e o pulso para transformar uma historia sobre os arcabouços escondidos dos sentimentos humanos e nossos relacionamentos familiares em um filme, pujante, sensível, intenso, e melancolicamente naturalista. Nós podemos ser qualquer um dos protagonistas. Personagens reais. Personagens tangíveis.

“The Decendants – Os Descendentes”(2011) magistralmente dirigido por Payne, nos leva a viver a historia de Matty King (George Clooney), um advogado régio, pacato, pai de família, herdeiro de uma verdadeira fortuna em terras num paraíso ambiental na costa do Hawai, dedicou sua via ao trabalho, e, agora, precisa reordenar sua família após uma grave acidente sofrido por sua esposa, e precisa acima disso, encontrar dentro de si força e principalmente, o que lhe move verdadeiramente.

Clooney esta magnifico. Transfigura em uma Matty King que possui um coração raro. Seu personagem é forte, mas ao mesmo tempo extremamente frágil, sensível e incompreendido. A naturalidade com que o astro “veste-se” de Matty King é absurda, e um dos pontos altos dessa película.

Perdoar e pedir perdão. Como fazemos isso¿ Como sermos tão indulgentes e entender que, nossas histórias aqui na terra são mais efêmeras que éter, e que, um simples trocar de peças, joga nossos castelos (de areia) todos a baixo. Não fomos criados, ensinados e preparados para lidar com perdas, e principalmente com o sentimento de rejeição, de troca, de traição.

As digitais de tais situações impregnam nossas almas e nos levam a justificar ações que muitas vezes tomamos como certas, mas que são injustificáveis. King nos da uma lição de humildade, amor e perdão. De uma maneira doce, como as ondas que arrebentam na enseada verde esmeralda do Hawai, “The Decendants” transita entre o cômico e o drama da mesma maneira que a vida da gente o é.

Temos um filme de personagem, que nos guiam que nos tocam e que nos ensinam.  A jovem atriz Shailene Woodley, que interpreta a filha mais velha de King, Alex,  e que aparentemente é uma rebelde sem causa segura firme na mão de George e esta em pé de igualdade as suas interpretações. Uma grata surpresa.

São 117 minutos versando sobre a condição humana e seus desdobramentos, sentindo a brisa suave o Hawai tocar-nos a face, e ávidos para saber o que vai acontecer com nossos personagens. Payne foi eficiente. Sem duvidas. Agregou de forma sutil, temas fortes, redecorou, e trabalhou firme para dar a “The Decendants” a leveza necessária para nos tocar. Um belo trabalho fotográfico aliado, e um elenco a apoio afinado, são méritos que devemos acrescer.

Por onde tem passado “The Decendants” ganha a critica, prêmios e público. Grande vencedor do Globo de Ouro deste ano dando a Clooney  o prêmio máximo, recebeu 5 indicações ao Oscar 2012 nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Edição e Melhor Roteiro Adaptado.

Na minha opinião ele é forte concorrente em apenas 3, Roteiro Adaptado, Filme e Ator coroando Clooney como um dos queridinhos da américa. Mas assim como a vida, essas premiações, são imprevisíveis. Palmas a Payne.