A grandeza de VIOLA – Oscar 2012

Opinião

Por Caroline Araújo

Eu particularmente gosto de comédias dramáticas. Sabe por que¿ Ora, unir dois estilos que alguns julgam diferentes, em um guion, que precisa dosar um e outro de formas precisas para que se tenha uma receita final digna, não é fácil. Quando se trabalha, só comédia, você tem uma mão. Quando se trabalha drama, é outra forma. Quando se junta as duas, tudo pode acontecer, para o bem, ou para uma indigestão fílmica.

“The Help – Vidas Cruzadas” (2011) dirigido por, digamos, de certa forma estreante Tate Taylor, é uma ótima equação de drama e comédia, mas acima disso, é um filme de atrizes, como há algum tempo não se via.  Baseado no livro homônimo de  Kathryn Stockett lançado em 2009, a história se passa em Jackson, Mississipi – onde inclusive, Taylor nasceu e foi criado na vida real –em plenos anos 60, onde a segregação racial e os movimentos sociais nos Estados Unidos estão borbulhando em um caldeirão . Temos as patroas brancas e as empregadas negras. Temos as esposas “perfeitas” com seus vestidos floridos e seus chás da tarde fúteis. Temos o subúrbio sujo, guetos, banheiros onde brancos não entram.

Temos a cara cínica, de uma sociedade hipócrita, que durante longos anos sedimentou seus impérios sob a descriminação, sob sofrimentos, sob medo, sob a dor de tantos homens, mulheres e crianças negras que não puderam ter o mínimo direito de sonhar. De forma rasa, o roteiro proposto, não adensa o universo desse caldeirão. Isso é pano de fundo. O tema aqui, de fato, é a superação, de ter coragem para ter voz.

Viola Davis dá vida a empregada doméstica Aibileen Clark. A vida dela, foi criar filhos dos patrões brancos. Dar amor, as crianças quando seus próprios pais se recusam a. Ensinar a respeitar e ser alguém. Taciturna, e de certa forma amargurada, ela leva seus dias. Até que em dado momento, uma das senhoras brancas, Skeeter interpretada por Emma Stone, recém formada e pretensa jornalista, busca Aibileen para entrevista-la, como é que se sente criando essas crianças brancas. Quais histórias ela possui¿ Qual a visão de uma doméstica negra nesse mundo¿ Skeeter faz com que Aibileen descubra e ouça sua própria voz.

Viola é completa! Sua interpretação é monstruosa, soberba e tocante. Seus olhos perjuros, falam mais que a boca muda que seus patrões colocam em seu rosto. Absoluta. Sua atuação é a ponta de lança dessa película, mas não seria o que é, se o time de atrizes com as quais contracena não estivessem inspiradas e na mesma sintonia.

Octavia Spencer que interpreta outra doméstica e amiga de Aibileen, Minny Jackson, é um presente. Dinâmica, precisa e cativante. Outra gigante. Os grande olhos profundos, assim como Viola, expressão tanto e tão habilmente. Completam esse elenco Jessica Chastain, como Celia Foote, que mostra sua versatilidade, em uma não muito feliz para sua carreira, Sissy Spacekr e  Bryce Dallas Howard, que fantasticamente personifica a hipocrisia em carne e osso dessa sociedade em questão.

O mérito aqui, é o recorte que se faz nessa época. O recorte em cima de personagens, as domésticas negras, que ninguém parou para olhá-las de fato. Ninguém parou para refletir que foram elas que criaram os lideres dessa sociedade que hoje estão no comando. Esse é o ponto. Tate, extraiu de seu time de atrizes mais do que se imaginava. Extraiu personagens que poderiam ser caricaturas, mas que sob a pele delas, tornaram-se naturais. Existentes.

“The Help” vem ganhando a critica. No Oscar do próximo domingo concorre nas categorias de Melhor Atriz para Viola Davis, Melhor Atriz Coadjuvante com Octavia Spencer e Jessica Chastain e na principal, de Melhor filme. Bem, esta última, julgo, merecida a indicação, mas não leva. Coadjuvante, absolutamente é de Octavia, e apenas Jessica poderia tirar essa estatueta dela, ou seja, tá em casa. Agora Melhor atriz a briga é titânica. Duas grandes amigas em dois papéis brilhantes. Viola e Meryl Streep ( “A Dama de Ferro”) estão empatadas. E para qualquer uma delas, que a estatueta seja dada, esta valendo. Merecidamente.