SPOTLIGHT no SPOTLIGHT
OPINIÃO
POR CAROLINE ARAÚJO
Nesse turbilhão de arrasa quarteirão e franquias infindáveis que virou “tendência” no cinemão comercial mundial, quando um filme onde praticamente a orbita dramática circunda uma mesma locação e você tem diálogos cheios de tensões e interpretações; você entende o que D. W. Griffith fez ao colocar o close up em “The Birth of Nation” (1915). Contudo, quando em dias atuais nos esbarramos em filmes de textões e cheios de jornalistas, parece que estamos em 1970, no auge das produções de dramas investigativos jornalísticos que bombaram naquela década.
“Spotlight – Segredos Revelados”(2015) é o refresco para a memória de que mesmo na contemporaneidade dos super estímulos da audiência, uma boa ideia cuja estruturação nevrálgica centre na tessitura de um roteiro profundo e muito bem arrematado, garante a atenção do espectador tanto quanto um show de pirotecnia. E com um adendo: será um filme que não morre em si, mas, reverbera, tem desdobramentos sociais, transborda o signo fílmico e produz um devir cinema.
Seguindo o convencional de uma narrativa linear, Tom McCarthy conduz o publico nessa caçada da verdade, colocando bloco a bloco a construção de uma curva narrativa ascendente que absolutamente vai nos levar as nossas inquietações. Baseado em uma história real – que deu origem ao livro, vencedor do Pulitzer –, escrito pelo mesmo time que participou da apuração do caso que chocou o mundo sobre a série de relatos de pedofilia praticados por membros da Igreja Católica na cidade de Boston – EUA, a película posiciona o espectador dentro da redação e nas ruas, desvelando os fatos e se perguntando tao qual os jornalistas na tela “como puderam acobertar tudo isso?
A atmosfera de bastidores da notícia inebria. Temos múltiplos protagonistas, cada qual com seu ponto de visão e seu peso somando ao tom que o arco dramático necessita. Não temos floreios, temos realismos. A direção de arte recriou um 2001 tão perfeito, que só nos damos conta de que faz tanto tempo, quando vemos as coisas “obsoletas” ou ultrapassadas na tela.
É inevitável a comparação com o clássico “Todos os Homens do Presidente”, e Tom não nega a influencia. E nem precisa. É sóbrio nas escolhas da direção e soube abrilhantar o elenco peso pesado que tinha em mãos. Como uma orquestra afinadíssima, Michael Keaton, Rachael MacAdams, Liev Schreiber, Stanley Tucci e Billy Crudup fazem uma festa de interpretação de encher os olhos. Eles vestiam de jornalistas tão realisticamente que foi impressionante. Mark Ruffalo é um caso a parte. Seu jornalista apaixonado é outra excelente atuação cheia de vida e que lhe rendem criticas merecidas. Além das indicações nas maiores premiações.
Com uma opção simples para construção dos enquadramentos e movimentos de câmera, Tom grita em alto e bom som a verve de seu filme: MENOS É SEMPRE MAIS. Menos firulas, Mais História. Menos efeitos desnecessários, Mais Brilhantes atuações. E por ai vai. Mas nem por isso temos uma fotografia ruim. Pelo contrário. A cor impressa na imagem tem um leve desbotar, como se, o frio de Boston tocasse a tela. Ou a perda da inocência de milhares de crianças que foram molestadas, desfalecesse a cor da imagem. É sutil. Mas é lindo.
No fim, temos um filme sobre os homens, seus pecados e o castigo.